Um sonho de casa

Árvores, árvores e mais árvores, se Miguel não estava em uma delas, era fácil encontrá-lo em uma caverna ou algo parecido. Até porque, os fantasmas também tem preferência por lugares, quando querem descansar ou quando principalmente são excluídos e tachados da sociedade dos seres vivos...

Mas ficar sozinho já era um costume, chato mesmo era fugir quando não percebia a presença de algo ou alguém curioso querendo lhe encher a cabeça com palavras insignificantes.

Prova disso foi quando estava flutuando em torno de uma árvore tão distraído, que chegou á levar um susto com seu maior trauma: um feitiçeiro que por ali cavalgava.

Ironia não? Fantasmas se assustarem... Mas dessa vez foi com razão, Miguel teve sua "morte" provocada por uma magia negra originária de um feitiçeiro. Sua reação quando deparou-se com o viagante? Gritar e flutuar para uma direção não determinada desesperadamente, coisa que não era muito de se ver da parte de Miguel

Sim, Miguel ainda estava assustado, pois não simpatizava com ninguém, nem mesmo com os animais.
Prova disso foi quando se embalou em um tronco no meio da floresta sofrendo com a presença do cavalo que pertencia ao mago que fora acidentado supostamente graças a seu susto.
- Saia daqui... saia daqui... - Miguel dizia baixinho de tanto medo do bicho que ia se aproximando. Seu medo era tão grande mais tão grande que não teve capacidades de se mexer para fugir ou atacar.
O fantasma só esperava pelo pior... Algo que impressionou o portador do animal.

Assim que a pergunta soou em sua mente, Miguel teve a chance que queria e desapareceu, como um fantasma mesmo. Um tempo se passou, nada aconteceu, até que uma voz que fez eco naquele tempo e espaço respondeu a pergunta de Lyn, porém deixando dúvidas imensas:
-Eu era Miguel, se sua curiosidade não acabou, me procure, mas só falarei com você quando achar que seu cristal esta á brilhar...

Do lado de fora do barzinho, uma musica ecoava. O som da flauta, seguido de cantos e melodias suaves, tomou conta de todos em torno do lugar. Era um som incrível, um som no qual jamais ninguém poderia produzir a não ser que fosse um bardo.

E era, a bardo Eleonora. A moça gostava muito de tocar melodias suaves e pacíficas em lugares onde a vagabundagem ou a discórdia corriam desamparados. Ela acreditava fortemente que a música poderia mudar, mexer e acalmar as pessoas assim como viu em várias e várias vezes que fizera isso. Então, ela escolheu aquele barzinho, aquele barzinho... E lá ficou e ficou...

Ela conseguiu uma platéia razoável, de alguns camponeses que por lá passavam e de alguns clientes do bar que seguiam como cachorrinhos a melodia de Eleonora de tão sem juízo que estavam. Mas pode-se dizer que alguns estavam conscientes...

Infelizmente o mago Lyn chegou tarde demais para ver Eleonora. A multidão se desfazia aos poucos como se algo estivesse dissolvendo na água por causa da interrupção.

A bardo era otimista, calma e sensível, além de ser tão bela quanto uma sereia. Não foi somente por sua música que atraiu tantos olhares... Assim como os de Marse.

E pegando na mão dele, Eleonora se levantou e disse:
- Muito obrigado ó meu jovem por me apresentar á lugares nos quais jamais voltarei á ver tão cedo!

Calladium lembrava muito bem do que sua mãe sempre lhe dissera. “Onde os homens bebem não é lugar para uma moça.”

Tais conselhos que nunca mais serviram para Calladium, desde que iniciara sua vida como viajante. Eis o motivo de ela nunca se importar em passar suas noites em hospedarias baratas e sujas como esta, muito menos de gastar seu tempo e pouco dinheiro após uma longa viagem naquele bar.

Apoiada no balcão, Calladium com sua heterochromia e aparência de não mais que uma menininha apesar de seus 18 anos, conversava animada com as pessoas de má vida, rindo e provando dos alcoólicos daquela região, até beirar a embriaguez. Era um jeito de distrair-se depois de sua longa jornada, aproveitando seu último dia livre já que na manhã seguinte, teria de procurar algum trabalho que a sustentasse até sua próxima viagem além vender as os itens adquiridos nas terras isoladas que visitara.